
Eu vivi dois anos em um relacionamento que era bonito só na minha cabeça. Foram dois anos de "Que roupa é essa?" "Com quem você vai?" "Que horas volta?". Foram dois anos de poder psicológico exercido sobre mim, sobre a minha vida e a forma de como eu a vivia. Sair de um relacionamento assim, não é fácil por vários motivos: A gente ama, a gente acha que não vai achar alguém melhor - inclusive, é o que ele tenta nos convencer o tempo todo -, a gente se sente presa a essa situação mas ainda assim chegamos a acreditar que a merecemos, a gente se sente completamente carente e começa a duvidar do nosso valor, da nossa sanidade. A gente se sente doente.
Houve uma época - em um lampejo de força, em que a real eu acordou e notou que algo estava errado - que consegui me afastar por cinco meses. Fui extremamente feliz, vivi da forma que toda mulher deve viver: livre. Usei meus shorts curtos, as blusinhas lindas e meus batons poderosos, coloquei meu delineador escandaloso, e ninguém me fez sentir como se eu não merecesse esse mundo todo. Essa força, daquela mulher que colocava o cigarro na boca sem se importar se a achariam vulgar - e mesmo que achassem, aquela mulher adoraria -, durou isso e apenas isso. Quando chegou a época de ficar sozinha, de focar na minha vida e aprender a gostar da minha presença, ela se desmanchou e disse adeus, com uma mãozinha de fora do táxi como quem pensa:"Chega, monamu, você não é livre coisíssima nenhuma". E ela estava certa.
O procurei. Revirei todas as redes sociais atrás de nós, mas não encontrei. Na verdade, ele já estava com outra mulher, uma mulher que eu odiei e me senti na obrigação de odiar.
"Volta pra mim, eu te amo"
"Eu também amo você... me espera, nós vamos voltar"
E esperei, e por meses me culpei e culpei aquela mulher. Eu a adiava. Eu o queria de volta, eu o aceitaria, eu deixaria minha vida toda por ele porque aquela voz na minha cabeça continuava dizendo que eu nunca, nunquinha, arranjaria alguém melhor, e nunca, nunquinha, seria o tipo de mulher forte o suficiente pra estar sozinha.
"Me manda foto dos seus peitos, tô com saudades"
Eu mandei até foto pelada. Ele se masturbou pra mim e eu me senti poderosa. No WhatsApp, dias depois, a foto com a nova namorada.
"Ah, ela implorou pra que eu colocasse. Resolvi colocar porque não aguento mais ela no meu pé"
Engoli tudo isso em seco. A eu interior, meio sonolenta, tentava repetir que eu merecia coisa muitíssimo melhor que isso, minha mente logo a cortou e disse "Você quem passou cinco meses sendo puta, agora isso é o que merece. Espere por ele calada" e eu assenti. Ele me dizia coisas lindas e eu chorava toda noite. Chorava porque eu o queria de volta, porque eu me sentia idiota por ter achado que seria feliz sozinha: haha, tadinha, acha que é maravilhosa assim.
Foi meio sem querer que eu descobri que, na verdade, eu sou maravilhosa pra cassete e a melhor coisa que faço por mim é ficar sozinha. Eu me acostumei aquela situação e cheguei a acreditar que ele realmente iria deixa-la, que ele me amava, que tudo que ele fez por mim era uma prova disso. Mas na verdade, aquele homem não é capaz de entender esse sentimento tão genuíno que é o amor: o amor é liberdade. O amor não é, definitivamente, poder psicológico, o amor não é ciúmes doentio nem brigas desesperadas, o amor não pesa, é leve, te faz leve, te tira os pés do chão.
E desde que notei que eu amo mais a mim, ele não me faz falta alguma. A mulher livre voltou correndo, me fez rir de algumas piadas soberbas e me ofereceu um copo de cana e uma ajuda pra ter a liberdade de seguir com a vida, de fazer algo dela, e desde então, meus projetos de me elevar e me parabenizar só crescem. Eu quero ser a minha unica preocupação, e que quando eu feche os olhos eu consiga sentir o gosto da liberdade e a valorize o suficiente pra apenas compartilhar com quem realmente fizer por merecer.
E desde que fui livre que ele me procura.
Não é fácil sair de um relacionamento abusivo e viver sã pra contar historia, mas toda mulher tem dentro de si um desejo de ser livre que vai a devorar um dia, e a fazer notar o quanto ela merece ser dela, e somente dela.

Nenhum comentário:
Postar um comentário